Feminicídio aconteceu quando vítima voltou em casa para buscar pertences — Foto: Ribas Ordinário
RIBAS DO RIO PARDO, MS – O Mato Grosso do Sul foi mais uma vez palco de uma tragédia que expõe a crescente e alarmante onda de violência contra a mulher. Na tarde desta quinta-feira (31), Cinira de Brito, de 44 anos, tornou-se a 20ª vítima de feminicídio no estado em 2025, após ser brutalmente morta a facadas pelo ex-marido em Ribas do Rio Pardo. O crime ocorreu de forma covarde, quando Cinira, acreditando que estaria segura, foi à antiga residência para buscar seus pertences após uma recente separação.
A frieza e a premeditação do ato chocam a comunidade local e reforçam a urgência do debate sobre a segurança de mulheres em processos de separação. De acordo com o delegado Felipe Braga, responsável pelo caso, o casal havia se separado há pouco tempo. Cinira, em um gesto de confiança ou talvez por um cálculo equivocado, acreditava que o ex-companheiro não estaria no imóvel quando decidiu ir até lá para reaver seus bens pessoais.
Contudo, ao adentrar a casa, ela foi surpreendida pela presença do ex-marido. Sem chance de defesa, Cinira foi impiedosamente atingida por múltiplos golpes de faca, que resultaram em sua morte no local. O horror do crime não terminou ali. Após a consumação do feminicídio, o agressor, cujo nome não foi divulgado, tentou tirar a própria vida, desferindo golpes de faca contra si mesmo.
A rápida ação de testemunhas, que alertaram o Corpo de Bombeiros, foi crucial para socorrer o agressor. Ele foi encontrado ainda com vida e, devido à gravidade de seus ferimentos, foi encaminhado em estado gravíssimo para a Santa Casa de Campo Grande, em um procedimento de “vaga zero”, que garante atendimento prioritário em casos de alta complexidade. A polícia aguarda sua recuperação para que ele possa prestar depoimento e esclarecer as motivações por trás de tanta violência.
A Alarmante Estatística do Feminicídio em Mato Grosso do Sul
A morte de Cinira de Brito eleva a 20 o número de feminicídios registrados em Mato Grosso do Sul neste ano de 2025, um dado que acende um alerta vermelho para as autoridades e a sociedade civil. A sequência de crimes de gênero no estado é preocupante e reflete um padrão de violência que vitimiza mulheres por razões relacionadas ao seu gênero, muitas vezes em contextos de relacionamentos íntimos.
O g1 reuniu os nomes e contextos de algumas das vítimas anteriores, destacando a abrangência geográfica e a diversidade de cenários em que esses crimes ocorrem:
- Karina Corin, 29 anos (Caarapó, 01/02): Morta a tiros pelo ex-companheiro.
- Vanessa Ricarte, 42 anos (Campo Grande, 12/02): Morta a facadas pelo ex-noivo.
- Juliana Dominguez, 28 anos (Dourados, 18/02): Indígena, morta com golpes de foice na cabeça.
- Mirieli dos Santos, 26 anos (Água Clara, 22/02): Morta a tiros pelo ex-marido.
- Emiliana Mendes, 26 anos (Juti, 24/02): Estrangulada pelo companheiro.
- Gisele Cristina Oliskowiski, 40 anos (Campo Grande, 01/03): Morta e corpo queimado pelo companheiro.
- Andreia da Silva Arruda, 30 anos (Nioaque, 29/03): Morta a facadas.
- Ivone Barbosa da Costa Nantes, 40 anos (Sidrolândia, 17/04): Morta com facadas na cabeça.
- Thacia Paula Ramos, 39 anos (Aporé, GO, 11/05): Natural de Cassilândia (MS), assassinada a tiros.
- Simone da Silva, 35 anos (Itaquiraí, 14/05): Morta a tiros na frente dos filhos.
- Olizandra Vera Cano, 26 anos (Aldeia Taquaperi, Coronel Sapucaia, 23/05): Assassinada a facadas.
- Graciane de Sousa Silva, 32 anos (Angélica, 25/05): Morreu após quatro dias de agressões.
- Vanessa Eugênio Medeiros, 23 anos (Campo Grande, 26/05): Morta com golpe mata-leão e depois carbonizada pelo marido.
- Sophie Eugenia Borges, 10 meses (Campo Grande, 26/05): Morta asfixiada e carbonizada junto com a mãe.
- Eliana Guanes, 59 anos (Corumbá, 07/06): Queimada viva pelo colega de trabalho.
- Doralice da Silva, 42 anos (Maracaju, 20/06): Morta a facadas pelo companheiro.
- Rose Antônia de Paula, 41 anos (Costa Rica, 27/06): Morta a facão pelo companheiro.
- Michelly Rios Midon Oruê, 47 anos (Glória de Dourados, 04/07): Assassinada a facadas pelo filho.
- Juliete Vieira, 35 anos (Naviraí, 25/07): Morta a facadas pelo irmão.
A repetição desses crimes, muitas vezes marcados pela extrema violência e pela vulnerabilidade da mulher diante de agressores íntimos, exige uma reflexão profunda da sociedade e a intensificação das políticas públicas de prevenção e combate à violência de gênero. A polícia de Ribas do Rio Pardo segue investigando o caso de Cinira de Brito, buscando reunir todas as provas necessárias para garantir que o agressor seja responsabilizado por seus atos.
Por Mirian Machado, Antonio Bispo, g1 MS e TV Morena — Mato Grosso do Sul
31/07/2025 20h12 Atualizado há 15 horas