Higor Thiago Santana de Almeida está preso como autor dos crimes (Foto: Reprodução)
O silêncio da madrugada em Rochedo, na região central de Mato Grosso do Sul, foi rompido pelo horror e pela fumaça. Uma tragédia familiar culminou na morte hedionda de Rosimeire Vieira de Oliveira, de 37 anos, sua mãe, a octogenária Irailde Vieira Flores de Oliveira, de 83 anos, e o filho adolescente de Rosimeire, de apenas 14 anos.
Inicialmente tratado como um possível incêndio acidental, o caso rapidamente evoluiu para a constatação de uma chacina. Os laudos periciais e o exame do médico legista foram cruciais para desvendar a dinâmica da violência. Foram identificadas múltiplas perfurações por instrumento perfurocortante — facadas — nas regiões do pescoço e do tórax das três vítimas. Contudo, o que conferiu uma camada extra de crueldade ao crime foi a detecção de fuligem nas vias respiratórias e na traqueia das vítimas, um sinal inequívoco de que elas ainda respiravam e, portanto, estavam vivas e conscientes quando as chamas tomaram conta da casa.
A Vingança como Motivação e a Captura do Suspeito
O principal suspeito, detido em flagrante poucas horas após o crime, é Higor Thiago Santana de Almeida, de 31 anos, ex-namorado de Rosimeire. O relacionamento, que durou cerca de quatro meses, havia terminado recentemente, e, segundo as investigações conduzidas pelo delegado Jarley Inácio, a motivação para o ato teria sido vingança e inconformismo com o término.
“Foi uma ação brutal e meticulosamente planejada,” declarou o delegado Jarley Inácio ao portal de notícias da Capital. Ele detalhou a sequência da violência: “As vítimas foram golpeadas com um instrumento perfurocortante e, mesmo feridas, ainda estavam vivas quando o autor deliberadamente incendiou a casa, consumando a morte de forma extremamente dolorosa, por inalação de fumaça e queimaduras.”
A Cena do Crime e o Esforço de Fuga
A disposição dos corpos nos diferentes cômodos da residência auxiliou os investigadores na reconstituição da sequência dos eventos e na demonstração da luta das vítimas pela sobrevivência. O delegado Inácio descreveu: “A idosa, Irailde, foi encontrada em seu quarto; o adolescente, no corredor central da casa; e Rosimeire, a principal vítima da ira do autor, estava caída próxima à porta de saída, em uma posição que sugere uma tentativa desesperada de fuga.” O delegado ainda detalhou que Rosimeire “tudo indica que foi atingida pelas costas, na região do pescoço, próximo à coluna cervical.”
Os sinais vitais presentes no momento do incêndio — evidenciados pela fuligem — reforçam a tese de que, embora esfaqueadas, as vítimas morreram asfixiadas pela fumaça e consumidas pelas chamas. “Elas lutaram pela sobrevivência, mas não conseguiram sair. O fogo tomou conta rapidamente,” lamentou Jarley.
As Provas e a Versão “Fabricada” do Suspeito
A investigação rapidamente descartou a hipótese de incêndio acidental. A ausência de um ponto de ignição claro e a necessidade de uma análise de engenharia elétrica para afastar falha na rede elétrica foram o prelúdio para a confirmação criminal após o laudo legista.
Próximo à cena do crime, a polícia encontrou a arma utilizada: uma faca, reconhecida por testemunhas como pertencente à residência onde Higor morava. Além disso, foram apreendidas botas e roupas com vestígios de sangue do suspeito. O delegado Inácio confirmou a realização de cinco perícias e inúmeras diligências para reunir os indícios de autoria e materialidade.
Durante o interrogatório, Higor apresentou uma versão considerada “fabricada” e inconsistente. Com histórico prévio de violência doméstica, o suspeito teve sua versão confrontada pelos fatos e indícios. “Fomos desmontando cada mentira até ficarmos convictos da autoria. Representamos pela conversão do flagrante em prisão preventiva,” explicou o delegado.
O Clamor por Ajuda Ignorado
Horas antes do crime, Rosimeire havia expressado medo. Mensagens enviadas a familiares e amigos revelam que ela estava assustada, mencionando que havia alguém “rondando a casa”. A sobrinha, Rosilaine Gomes, relatou que a tia estava incomodada com a insistência do ex-namorado. “Ela falava que ele queria morar com ela e ela não queria. Depois, mandou mensagem dizendo que tinha alguém dentro da casa,” confirmando o temor da vítima.
Vizinhos, alertados pelo clarão e pela fumaça pouco depois da meia-noite, tentaram desesperadamente conter o incêndio com mangueiras e baldes, uma vez que o município de Rochedo não possui uma unidade do Corpo de Bombeiros. “Quando conseguimos abrir a janela, já era tarde. Era muito fogo. Ficamos desesperados,” relatou uma moradora local.
Com as mortes de Rosimeire e Irailde, o estado de Mato Grosso do Sul atinge o alarmante patamar de 35º e 36º feminicídios registrados somente em 2025, um dado que ressalta a urgência de medidas mais eficazes de proteção contra a violência de gênero.
Fonte: (Do Campo Grande News)




