Filho assassina mãe em Glória de Dourados e revela drama marcado por dependência química

Filho assassina mãe em Glória de Dourados e revela drama marcado por dependência química

Uma tragédia familiar abalou profundamente a cidade de Glória de Dourados, no interior de Mato Grosso do Sul, após o assassinato brutal de Michelly Rios Midon Oruê, de 47 anos, morta com diversas facadas pelo próprio filho, Alfredo Henrique Oruê dos Santos, de 21 anos, na tarde da última quinta-feira (3). O crime, classificado como feminicídio, é o 17º registrado no estado em 2025, e evidencia a vulnerabilidade de famílias que convivem com transtornos mentais graves, violência doméstica e dependência química sem suporte adequado.

Segundo a Polícia Civil, o crime ocorreu na residência da família, localizada na rua Ivinhema, região central da cidade. A vítima foi encontrada com múltiplos ferimentos, sendo o mais grave na região da jugular, nos fundos do quintal da casa. A descoberta foi feita por parentes e amigos, que, preocupados com a falta de resposta de Michelly ao longo do dia, decidiram verificar o que estava acontecendo. A cena chocante espalhou-se rapidamente entre os moradores, gerando comoção e revolta.

Após o homicídio, Alfredo fugiu com o carro da família, um Renault Logan branco, e seguiu em direção a Dourados, onde foi localizado no dia seguinte pela Polícia Militar, dormindo em uma residência identificada como ponto de tráfico e consumo de drogas, no bairro Jóquei Clube. O veículo estacionado em frente ao imóvel facilitou sua localização. O jovem foi preso sem resistência e permaneceu em silêncio durante a abordagem. Encaminhado à Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) de Dourados, confessou o assassinato e, posteriormente, foi transferido para Glória de Dourados, onde o caso segue sob investigação.

Relatos de familiares e vizinhos apontam que Michelly enfrentava há anos um convívio difícil com o filho, que havia sido diagnosticado com esquizofrenia e fazia uso constante de drogas. A irmã da vítima, Adriana Oruê, contou que Michelly se mudou de Sidrolândia para Glória de Dourados em busca de melhores condições para o tratamento de Alfredo. Antes disso, o rapaz já havia tentado suicídio e foi internado por duas semanas.

“Ela fez tudo por ele. Abandonou a cidade onde morávamos, onde era muito querida, para tentar oferecer uma vida melhor e mais segura ao filho. Foi uma mãe guerreira”, disse Adriana, emocionada.

Michelly era descrita como uma mulher alegre, solidária e muito querida na comunidade. “Todos sabiam que podiam contar com ela. Lutou incansavelmente pela família, especialmente pelo filho”, comentou um vizinho próximo.

A última conversa entre as irmãs ocorreu dois dias antes do crime. Michelly teria dito que “estava tudo bem” e que pretendia levar o filho ao médico. Não se sabe, no entanto, se Alfredo voltou a fazer uso de entorpecentes antes do assassinato. A motivação exata ainda é apurada pela polícia, que trabalha com a hipótese de um surto psicótico agravado pelo consumo de drogas. Também é investigado se havia histórico de agressões anteriores no ambiente familiar.

O crime não chocou apenas Glória de Dourados, mas também as cidades de Sidrolândia e Corumbá, onde Michelly deixou laços afetivos e uma trajetória marcada pela empatia. O assassinato acende um alerta urgente sobre a necessidade de políticas públicas consistentes voltadas à saúde mental, especialmente no suporte a famílias que enfrentam esse tipo de situação sozinhas, com sobrecarga emocional, falta de acesso a tratamento contínuo e vulnerabilidade social extrema.

O jovem acusado permanece preso e à disposição da Justiça. A tragédia reforça a dura realidade enfrentada por mães que, como Michelly, dedicam a vida aos filhos, mas acabam sozinhas diante da ausência de políticas públicas eficazes.



Fonte: Agência Brasil