Estudantes que vivem e estudam em áreas dominadas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro têm desempenho escolar significativamente pior do que aqueles que não convivem com o problema.
A diferença de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica chegou a alcançar 10 pontos na série histórica analisada, o que equivale a cerca de seis meses de aprendizagem.
A conclusão faz parte de um estudo, divulgado nesta quarta-feira, realizado pelo Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, Instituto Fogo Cruzado, Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense e Centro para o Estudo da Riqueza e da Estratificação Social.
O relatório aponta também que, em 2022, escolas em áreas não dominadas apresentaram uma taxa média de abandono escolar no 3º ano do ensino médio de 7,2%, abaixo das taxas de áreas dominadas, que variaram de 9% a 9,6%. Já em escolas localizadas em áreas que registraram mais de três confrontos armados ao longo do ano, a taxa de abandono subiu para mais de 10%.
Maria Isabel Couto, Diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado, fala sobre a importância do estudo:
“Pela primeira vez foi possível medir o impacto da presença ostensiva de grupos criminosos armados no Grande Rio sobre a Educação. Durante muito tempo o que a gente conseguia mensurar eram os confrontos. Agora é possível mensurar também o efeito do controle territorial armado. E a pesquisa não deixa dúvidas: o controle territorial armado tem impacto na educação”.
A especialista destaca que os impactos da violência armada na vida dos estudantes têm consequências também no longo prazo: “A violência armada reforça desigualdades sociais e impede que a educação sirva como uma porta, uma oportunidade para outros futuros possíveis, futuros melhores”.
O levantamento ainda analisa o desempenho dos estudantes nas disciplinas e revela que alunos de escolas em áreas não dominadas tiveram resultados melhores tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática, nas duas séries analisadas: 5º e 9º ano.
Esse cenário ocorre independentemente do tipo de dominação armada, seja por milícia ou tráfico.
Fonte: Rádio Agência Nácional