VÍDEO: O Silêncio de Lancellotti: Proteção ou Rendição da Igreja à Pressão Política?

Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, ordenou que o Padre Júlio Lancellotti suspenda suas missas online e atividades nas redes sociais. A medida, justificada como "proteção", ocorre após intensa pressão de grupos políticos de direita. O texto argumenta que a decisão reflete a inércia de autoridades estaduais e eclesiásticas que falham em proteger o trabalho humanitário do religioso contra a perseguição política, optando pelo silenciamento em vez do enfrentamento institucional às ameaças.
Lancellotti

Dom Odilo Scherer ordena que Padre Júlio suspenda missas online e redes sociais em meio a ataques da extrema-direita; medida levanta questionamentos sobre a inércia de autoridades que deveriam blindar a missão profética do religioso.

São Paulo, SP – O cenário religioso e político brasileiro foi sacudido no último domingo (14) pela decisão do Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, de impor o silêncio digital ao Padre Júlio Lancellotti. A ordem determina a suspensão imediata das transmissões de missas ao vivo e de toda e qualquer atividade nas redes sociais do sacerdote, sob a justificativa de um necessário “recolhimento e proteção”.

Lancellotti, que há mais de quatro décadas é o rosto da resistência e do acolhimento à população em situação de rua na paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, acatou a decisão com a frase: “Cabe a mim apenas obedecer”. No entanto, o que a Igreja classifica como “cuidado”, para muitos analistas e fiéis, soa como um recuo estratégico diante da escalada de ataques coordenados por figuras da extremistas.

A Inércia que Abre Caminho para a Intolerância

A decisão de Dom Odilo ocorre em um vácuo de representatividade e proteção institucional. Enquanto o Padre Júlio se tornava alvo de abaixo-assinados entregues à Embaixada do Vaticano e de constantes ameaças de setores que criminalizam a caridade, as autoridades estaduais e eclesiásticas que deveriam ser os primeiros escudos de quem defende os direitos humanos parecem ter optado pela inércia conveniente.

Em vez de uma defesa intransigente da liberdade de atuação e expressão do religioso, a cúpula da Igreja e os representantes políticos que deveriam prezar pela paz social entregam o “recolhimento”. No tabuleiro político, o afastamento digital de Lancellotti é uma vitória para aqueles que usam a máquina pública e a influência política para perseguir o trabalho assistencial. O silenciamento das redes sociais, onde o padre denunciava abusos e organizava auxílio, deixa um vácuo que dificilmente será preenchido por quem hoje assina a ordem de suspensão.

Futuro Incerto e Rumores de Transferência

Aos 76 anos prestes a completar 77, Lancellotti também lida com o fantasma da aposentadoria compulsória. Embora a Igreja utilize a idade como critério técnico, é impossível dissociar o momento da suspensão digital das pressões externas para que ele deixe a Mooca.

Até o momento, não houve oficialização de transferência, e o padre segue celebrando missas presenciais. Contudo, a mensagem enviada ao público é clara: a pressão política surtiu efeito. Onde deveria haver uma voz firme das autoridades em apoio ao trabalho social, encontrou-se o caminho do meio, o silêncio administrativo. Ao retirar Lancellotti das telas, a Igreja não protege apenas o padre; ela protege a si mesma do desgaste político, deixando órfãos milhares de seguidores que viam naquelas transmissões um sopro de esperança e denúncia.

Resta saber se o “recolhimento” é uma pausa para fôlego ou o início de um apagamento definitivo de uma das vozes mais incômodas do Brasil contemporâneo.