Morre PRETA GIL, aos 50 anos: cantora, empresária e símbolo de resistência deixa legado no Brasil e no mundo da música

A cantora Preta Gil faleceu neste domingo (20), aos 50 anos, após uma longa e corajosa batalha contra um câncer no intestino. A artista estava nos Estados Unidos realizando um tratamento experimental, após esgotar as alternativas médicas no Brasil. Mais que filha de Gilberto Gil, Preta construiu uma carreira própria como cantora, empresária, defensora da diversidade e uma das vozes mais autênticas da música brasileira contemporânea.
Preta Gil – Foto: Globo/ Maurício Fidalgo

 

Uma despedida precoce para uma artista intensa

A música brasileira se despede de uma de suas figuras mais queridas e emblemáticas. Preta Gil, cantora, empresária e influenciadora cultural, morreu neste domingo (20), aos 50 anos, após complicações decorrentes de um câncer no reto. Lutando contra a doença desde 2023, Preta vinha enfrentando diversas internações, cirurgias e sessões de quimioterapia. Nos últimos meses, ela se encontrava nos Estados Unidos para um tratamento experimental, numa tentativa derradeira de combater a reincidência agressiva do câncer.

A notícia de sua morte comoveu fãs, artistas, colegas de profissão e representantes da cultura em todo o país. Redes sociais rapidamente se encheram de homenagens, depoimentos emocionados e registros de sua trajetória intensa, marcada por autenticidade, carisma e coragem.


Filha de um ícone, dona do próprio caminho

Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, filha do cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil e de Sandra Gadelha. Apesar de crescer sob a influência de uma das maiores personalidades da música brasileira, Preta nunca se acomodou à sombra da herança familiar. Ao contrário, lutou para construir sua própria identidade artística, com personalidade forte e uma relação autêntica com o público.

Seu primeiro álbum, Prêt-à-Porter, lançado em 2003, misturava MPB, pop, samba e funk carioca. Era um reflexo direto de sua pluralidade musical e cultural. Desde então, lançou diversos projetos, entre álbuns de estúdio, DVDs e participações em programas de TV, sempre explorando temas como corpo, autoestima, sexualidade e empoderamento.

Preta era conhecida por sua voz potente, suas opiniões firmes e sua presença de palco envolvente. Cantava com a alma, dançava com o corpo inteiro e falava com o coração aberto.

Rainha do carnaval carioca e empresária de visão

Além da carreira musical, Preta Gil conquistou um espaço especial no carnaval do Rio de Janeiro. Em 2009, ela criou o Bloco da Preta, que rapidamente se tornou um dos maiores do país. O bloco desfilava pelas ruas do centro da cidade arrastando multidões, com shows vibrantes e celebrando a diversidade. Com ele, Preta não apenas animava os foliões, mas também levantava bandeiras importantes de inclusão social, respeito às diferenças e valorização da cultura popular.

Fora dos palcos, Preta atuou como empresária à frente de sua própria produtora, voltada à música, eventos e marketing. Ela foi mentora de novos artistas e ajudou a consolidar iniciativas culturais no país. Também era presença constante em campanhas sociais, especialmente ligadas ao combate ao preconceito, à gordofobia e à valorização das mulheres negras.


A luta contra o câncer: uma jornada pública e corajosa

O diagnóstico de câncer no reto veio em meados de 2023, após a cantora relatar dores e sintomas persistentes. Logo iniciou um rigoroso tratamento com quimioterapia e radioterapia, seguido de cirurgia para remoção do tumor primário. Aparentemente recuperada, Preta retomou parte de sua vida pública, mas a tranquilidade durou pouco.

No segundo semestre de 2024, a doença voltou de forma agressiva: foram identificadas seis metástases no peritônio e sistema linfático. A cantora passou por uma cirurgia extremamente complexa de 21 horas para remover os novos focos. Após o procedimento, passou a utilizar uma bolsa de colostomia de forma definitiva — fato que ela encarou com naturalidade e transparência, compartilhando o processo nas redes sociais.

“Eu sou muito grata à minha bolsinha de colostomia. Ela salvou minha vida, e eu a recebo com gratidão. Estou aprendendo a conviver com ela todos os dias”, declarou em um vídeo emocionado publicado em 2024, recebendo apoio massivo do público.

Nos últimos meses, Preta viajou aos Estados Unidos para tentar um tratamento experimental. Mesmo com as adversidades, ela seguia esperançosa e cercada pela família, especialmente pelo filho Francisco Gil, fruto de seu relacionamento com o ator Otávio Müller.


Legado: mais que uma artista, uma inspiração

Preta Gil deixa um legado que vai muito além da música. Foi uma das vozes mais consistentes da luta por diversidade, respeito ao corpo, liberdade de expressão e empoderamento feminino. Defensora da causa LGBTQIA+, da cultura negra e da aceitação do corpo fora dos padrões, ela tornou-se referência para milhões de mulheres brasileiras.

A artista também ajudou a abrir caminhos para novas gerações de músicos e performers que, como ela, acreditam na arte como ferramenta de transformação social. Preta viveu com intensidade, amor e entrega — nos palcos, nas redes sociais e na vida.


Despedida e homenagens

O velório de Preta Gil deverá ocorrer no Rio de Janeiro, em cerimônia restrita à família e amigos. A data e o local ainda não foram divulgados oficialmente. A comoção nas redes sociais já tomou conta de fãs, celebridades, políticos e instituições culturais, que prestam homenagens e relembram momentos marcantes da artista.

Gilberto Gil, pai da cantora, publicou uma breve e emocionada nota: “Minha filha foi luz, coragem e amor. Vai em paz, minha preta.

por Priscilla Comoti
pcomoti_colab@caras.com.br

Publicado em 20/07/2025, às 19h59